13 de fevereiro de 2013

Ainda o ensino superior em Pombal

Não assisti ao fórum "Como crescer na crise" promovido pela concelhia do PS. Daí que, talvez, não devesse falar sobre ele. O problema é que não consigo deixar de comentar o que li no relato do Orlando Cardoso, jornalista a quem reconheço isenção.

Segundo os empresários presentes, uma das receitas para Pombal "crescer na crise" seria a instalação de um pólo do Ensino Superior na cidade. Assim, sem mais nem menos. Não interessa saber que Ensino Superior, quais as licenciatura a ministrar. O que interessa é ter um barracão qualquer onde alguém coloca uma placa de mármore a dizer “Universidade inaugurada pelo Senhor Fulano de Tal…” e se encha de jovens de capa-e-batina dispostos a queimar a mesada nossos bares a troco de nos derreterem os tímpanos: “a mulher gorda/para mim não me convém/…”.

Esta discussão já não é nova e, como tal, respigo alguns argumentos que usei num artigo que escrevi para O ECO, em Outubro de 2002, e que explicam porque estou em total desacordo com a opinião dos nossos empresários.

"O ensino superior em Portugal, depois da enorme explosão verificada nos anos 90, atingiu um período de estabilização, senão mesmo de recessão. Muitas das universidades existentes não conseguem preencher o número de vagas disponíveis e muitos cursos apenas o fazem pois admitem alunos com médias claramente inferiores às consideradas adequadas. Seria muito pouco crível que uma instituição de ensino superior investisse num curso de sucesso em Pombal podendo fazê-lo na sua cidade de origem, com muito menos custos. Perspectiva-se, assim, a vinda para Pombal de cursos com capacidade para atrair apenas os piores alunos do país.

Uma universidade é uma instituição de ensino que necessita de professores altamente qualificados, alunos motivados, infra-estruturas adequadas, bibliotecas, etc. O investimento envolvido na criação de um pólo universitário de qualidade é muito elevado e dificilmente as instituições que conheço tem capacidade para o fazer."

Se esta era a situação em 2002, imagine-se em 2013!

4 comentários:

  1. Concordo plenamente Adérito!
    Quando li a notícia e registei que os argumentos não passavam de visões bairristas, fiquei a remoer no assunto...
    Este mesmo argumento barrista usado em Pombal, já terá ajudado à criação de algumas instituição/pólos de Ensino Superior no país. Hoje, algumas dessas instituições deparam-se com falta de alunos ou com ordem de encerramento de cursos em resultado do sistema de avaliação do Ensino Superior que agora vigora.
    Registo ainda a visão bairrista, quando uma empresária dá conta das dificuldades em contratar técnicos especializados, dificuldade que pode ser suprida com a criação de um pólo de Ensino Superior em Pombal. Penso que hoje em dia, nem as políticas de recrutamento das empresas podem ficar confinadas à oferta local, nem a criação de cursos de ensino superior pode ter em vista apenas necessidades locais, mas sim devem inserir-se nas dinâmicas profissionais locais/nacionais e europeias. É preciso ver a "Big Picture"!
    Dina Sebastião

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  2. Parece-me que a questão não tem forçosamente deser tão maniqueista. Pode haver "presença" de ensino superior (ou de sua acção de investigação) sem se criar uma universidade em Pombal. Ter um laboratório em parceria com uma universidade, ter um centro de estudos em qq coisa... hoje em dia, a mobilidade faz de Coimbra ou Leiria cidades "a 2 passos" de Pombal, e creio que era possivel uma cooperação que trouxesse a Pombal essa "sofisticação", tão necessária à nossa forma de pensar e ver o mundo, infelizmente, ainda tão provincianas.

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  3. Caro Gabriel,

    Se esta fosse uma discussão de café, até poderia compreender. O problema é que estas opiniões são afirmadas na esfera política, próximo dos órgãos de decisão e aí há que ser maniqueista: ou queremos (e fazemos) ou não queremos e optamos por outra estratégia.

    Um político não se avalia pela obra que executa mas sim pela capacidade de estabelecer prioridades e de adequar os recursos à sua execução. O ensino superior não é, claramente, uma prioridade em Pombal. Aliás, essa não é sequer a nossa vocação. Quanto a mim, Pombal teria mais a ganhar se pensasse em captar "spin offs", possibilitando o crescimento das boas ideias que se vão criando nas incubadoras de empresas próximas das universidades (como é o caso do Instituto Pedro Nunes em Coimbra). O Biocant (www.biocant.pt), em Cantanhede, é um excelente exemplo do que acho que poderia ser feito.

    Uma estrutura desse género, uma vez criada, iria gerar massa crítica e, no futuro, até poderia fazer sentido pensar-se em ensino superior em Pombal. Neste momento é descabido e a prova é que tu mesmo dizes "ter um centro de estudos em qualquer coisa". A indefinição desse "qualquer coisa" é reveladora.

    Abraço,
    Adérito

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  4. Prioridade o ensino superior? Prioridade deveria ser o ensino básico. Onde falta tanta coisa,nomeadamente instalações.

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