Farpas
"E na epiderme de cada facto contemporâneo cravaremos uma farpa: apenas a porção de ferro estritamente indispensável para deixar pendente um sinal."
27 de abril de 2024
Canções de Abril #27
26 de abril de 2024
Canções de Abril #26
A marcha militar que precedia os comunicados do MFA entrou rapidamente no ouvido das pessoas por ser uma melodia alegre, cheia de energia e de fácil memorização. É uma adaptação de uma marcha militar inglesa, intitulada “A Life on the Ocean Wave”, do pianista inglês Henry Russel (1812-1900), a que José Niza agregou, sem grande sucesso, uma letra designada “Desta vez é que é de Vez”.
Na verdade, o que ficou mesmo no ouvido foi a bela marcha, por encarnar o pujante sentimento de libertação. Uma verdadeira música da Revolução.
25 de abril de 2024
Canções de Abril #25
No dia 25 de Abril de 1974, quando passavam pouco mais de 20 minutos do 'dia inicial, inteiro e limpo', os passos de Francisco Fanhais (gravados em França, no exterior do castelo de Herouville) ecoaram no éter. O Movimento das Forças Armadas (MFA) escolheu a Rádio Renascença para a transmissão da senha de confirmação da operação militar contra o regime. Ao microfone, o locutor Leite de Vasconcelos, autor do programa "Limite", anunciava primeiro os versos:
Grândola, vila morena
terra da fraternidade
o povo é quem mais ordena
dentro de ti, oh cidade
Nessa noite, a rádio divulgou duas senhas: a primeira era “E depois do adeus”, de Paulo de Carvalho, transmitida pelos Emissores Associados de Lisboa. A segunda seria a música de José Afonso, que a Rádio Renascença tocou. O primeiro sinal destinava-se a preparar as tropas para a saída, e o segundo ao início das operações.
A canção foi composta em 1971, depois de uma visita de Zeca Afonso à Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense de Grândola, no Alentejo. A canção integrou o álbum Cantigas do Maio, dirigido por José Mário Branco, em França.
Há 50 anos, a cantiga era uma arma e a revolução estava na rua.
Viva o 25 de abril. Viva a liberdade!
23 de abril de 2024
Canções de Abril #24
A 8 de março de 1974, Paulo de Carvalho ganha o Festival da Canção com “E Depois do Adeus”, uma canção romântica com música de José Calvário e letra de José Niza. A canção ficará em penúltimo lugar no Festival da Eurovisão, mas ficará para História por outros motivos.
Sete semanas depois é escolhida para 1.ª senha do Golpe de Estado, transmitida pelos Emissores Associados de Lisboa, às 22h55 de 24 de abril, por ser uma canção conhecida e sem conteúdo político, servindo, assim, para dar o sinal de alerta e prontidão sem levantar suspeitas, podendo o golpe ser cancelado se os líderes militares concluíssem que não estavam reunidas as condições para avançar. Não foi o caso.
A bela canção de amor cumpriu a sua missão.
Intervenções da “oposição” na reunião da “junta” (II)
As intervenções da dita oposição na reunião da “junta”, ontem, roçaram a indigência mental. É difícil dizer qual dos dois esteve pior. Na nulidade não há distinção.
O dotor Luís, na ausência de melhor assunto, agarrou-se a uma discreta indirecta do dotor Pimpão sobre um assunto do PS, falta de médicos, para retorquir não ao assunto em si, mas para expressar azedume pela suposta limitação da liberdade de expressão manifestada pelo dotor Pimpão. E perguntou pelo estado de uma rotunda prometida. Não vem mal nenhum ao mundo que o dotor Simões não saiba distinguir liberdade de expressão de direito ao contraditório e à crítica – expressão maior da liberdade expressão. Mas é um ultraje à política que um político os perverta.
A doutora Odete quis conhecer o orçamento das próximas festas do bodo. Falou da coisa com a dotora Gina como duas adolescentes falariam no intervalo para recreio. Pelo que se ouviu (e tem ouvido) nem uma nem outra tem noção nenhuma do que é e para que serve um orçamento.
Qualquer pessoa com dois neurónios a funcionar, que oiça aquilo, percebe que o dotor Simões não tem noção nenhuma do que é e de como se faz política. E a dotora Odete é um caso ainda pior: em duas décadas de actividade política não aprendeu nada.
Ao pé destes imberbes políticos o dotor Pimpão até parece político. Como gosta muito de festas e eventos e detesta actividades executivas, poderia entregar as reuniões da “junta” à dotora Gina. Ou dispensar, sem perda de senha, os vereadores da oposição; evitando-lhes, assim, a sistemática má-figura.
Canções de Abril #23
22 de abril de 2024
Canções de Abril #22
O tema que dá nome ao álbum foi a primeira escolha do Capitão Santos Coelho para senha do 25 de Abril. Acontece que, já com tudo preparado, descobriu-se que essa música estava proibida pela Rádio Renascença, tendo a escolha alternativa recaído sobre "Grândola, Vila Morena". O resto é história.
21 de abril de 2024
Canções de Abril #21
20 de abril de 2024
Canções de Abril #20
Um poema de Sophia de Melo Breyner ganhou vida na voz do então padre Francisco Fanhais, integrando o único álbum que gravou: “Canções da Cidade Nova”, publicado em 1970 com o selo do programa Zip-Zip, da RTP.
Um ano antes, saíra o primeiro registo de Fanhais, um EP editado pela Orfeu com músicas suas a partir de poemas de Sebastião da Gama ou de João Apolinário e ainda um texto bíblico musicado por Pedro Lobo Antunes.
Em 1971, impedido de exercer o sacerdócio, Fanhais parte para França, onde participa nesse ano nas gravações do álbum “Cantigas do Maio”, de José Afonso. São também seus os passos que ouvimos em “Grândola, Vila Morena”, captados no exterior dos estúdios do Castelo de Hérouville, onde Zeca grava esse que era já o seu quinto álbum de estúdio. Fora algumas colaborações posteriores, desde logo ao lado de Zeca, Francisco Fanhais não mais voltaria a gravar em nome próprio. Através da música tornou-se uma das mais ativas vozes dos chamados católicos progressistas que combateram a ditadura de Salazar.
19 de abril de 2024
PS - casa desgraçada, casa gozada
O PS1 e o PS2 finalmente juntaram-se. Para quê, perguntará o caro leitor? Para a diversão, para irem passear em Bruxelas.
A diversão é sempre uma boa ocupação, quando se pode fazê-la. Mas quando se faz a expensas de outros exige-se alguma parcimónia e algum decoro. Coisas que camaradas com aspirações burguesas ignoram e dispensam; porque o que verdadeiramente lhes interessa é aproveitar as mordomias concedidas pelo regime. A coisa tolerava-se, até por caído em rotina, se não tivessem o desplante parodiar o Zé e a Maria – os pagantes da coisa. Mas o que é se pode fazer, há muito que o juízo abandonou aquela casa.
Quando era alvo de interpelações chochas, D. Diogo costumava dizer, com desagrado e até algum desgosto, que a oposição não trabalhava, não pensava, era preguiçosa. Mal nem ele sabia (ou sabia!) que o pior estava a caminho: actualmente ninguém trabalha, e ninguém pensa, tanto na oposição como no poder (apesar de este ser pago para tal).
Os desvarios conduzem sempre à desgraça. Esta espécie de oposição já é uma desgraça. Mas terá vida curta. Falta pouco para o Zé e a Maria dizerem chega. É a vida!
Há vidas piores. Pois há…!
Canções de Abril #19
“O que Faz Falta” é uma canção do álbum Coro dos Tribunais, com temas compostos antes do 25 Abril mas gravado no final de 1974, em Londres, já sem o aval da censura prévia. Todo o álbum corresponde a uma forte linha de intervenção e de desencanto em relação às falsas ilusões geradas pela designada primavera marcelista.
O Zeca gostava muito desta canção (mais do que do Grândola, que pelas razões conhecidas e desconhecidas se tornou celebre), talvez pela forte mensagem de mobilização popular que ela encerra. Interpretou-a pela primeira vez, antes da revolução do 25 de Abril, para um grupo de trabalhadores que se encontravam em protesto contra o lock-out promovido pelo patrão de uma fábrica. E, segundo José Jorge Letria, teria gostado de fechar o I Encontro da Canção Portuguesa, organizado pela Casa da Imprensa, a 29 de Março de 74, no Coliseu dos Recreios, onde esteve toda a geração de músicos de intervenção, com “O Que Faz Falta” ou “Venham mais Cinco” se a censura não as tivesse retalhado e cortado aos pedaços. Acabou por escolher o “Grândola Vila Morena”, que foi cantada em coro por todos os músicos e pelo público.
Naquela época como agora,
“O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é dar poder a malta
O que faz falta”.